Por que o WhatsApp parou?

Explicações sem muita explicação: segredo de justiça na investigação de um caso, represália ao aplicativo por não colaborar com a justiça, por prestar um serviço gratuito enquanto operadoras de telefonia deixam de ganhar… Mas o que realmente está acontecendo no nosso país?

Este foi o pronunciamento de Mark Zuckerberg, dono do Facebook e do WhatsApp em seu perfil no Facebook, publicado em inglês e português:

“Hoje à noite, um juiz brasileiro bloqueou o WhatsApp para mais de 100 milhões de usuários do aplicativo no país. Estamos trabalhando duro para reverter essa situação. Até lá, o Messenger do Facebook continua ativo e pode ser usado para troca de mensagens. Este é um dia triste para o país. Até hoje o Brasil tem sido um importante aliado na criação de uma internet aberta. Os brasileiros estão sempre entre os mais apaixonados em compartilhar suas vozes online. Estou chocado que nossos esforços em proteger dados pessoais poderiam resultar na punição de todos os usuários brasileiros do WhatsApp pela decisão extrema de um único juiz. Esperamos que a justiça brasileira reverta rapidamente essa decisão. Se você é brasileiro, por favor faça sua voz ser ouvida e ajude seu governo a refletir a vontade do povo.”

Ao final, lançou 2 hashtags: ‪#‎ConectaBrasil‬ ‪#‎ConecteoMundo‬

Pelo que Zuckerberg menciona, sua empresa foi punida – juntamente com mais de 100 milhões de usuários do serviço – por não fornecer dados pessoais de seus usuários para colaborar em uma investigação que corre em “segredo de justiça”. Um único juiz da cidade de São Bernardo do Campo conseguiu o feito de bloquear um serviço que metade da população do país usa.

O engraçado é que essa resolução vem de encontro ao que muitas operadoras de telefonia querem: sem WhatsApp as pessoas serão obrigadas a fazerem ligações normais de seus celulares e a pagarem por elas.

Mais engraçado do que isso é que estamos sendo testemunhas de que é possível bloquear um serviço quando se quer, mas não é possível – segundo afirmam – bloquear as ligações de celulares feitas a todo momento por bandidos dos presídios brasileiros. E antes que alguém pergunte como eu posso saber que  bandidos fazem ligações a todo momento dos presídios, não é porque eu estou lá para ver, mas porque já recebi, meu marido já recebeu, minha mãe já recebeu e muitos amigos também receberam ligações de presídios. Vai ver até você que lê este post já recebeu, então, não me digam que isso não acontece ou que são apenas “casos isolados”. Não são!

Já ouvi que “não seria justo colocar bloqueadores de sinal nos presídios para não prejudicar os usuários de celular que vivem nos arredores”, mas e agora? É justo bloquear um serviço e penalizar mais de 100 milhões de pessoas? Faça-me o favor!

Não, eu não estou revoltada por causa do WhatsApp em si. Não, eu não sou viciada no aplicativo. Não, eu não vou tomar manga com leite para me matar porque não posso conversar nos meus grupos por 48 horas. A minha revolta é que neste país a arbitrariedade impera. A minha revolta é que neste país o mal é justificado e mantido, enquanto o bem é penalizado. A minha revolta é que neste país, serviços gratuitos ou baratos sejam devorados por empresas que cobram caríssimo pelo mesmo serviço, a exemplo do Über, que atende muito bem seus usuários, mas é considerado “fora da lei”.

A minha revolta é que neste país as pessoas ataquem uma construção feita com recursos particulares de financiamento coletivo, como o Templo de Salomão, mas aplaudam a construção de estádios com dinheiro público, que hoje estão às moscas e ainda custando milhares de reais para serem mantidos. É isso que me revolta!

Vamos abrir os olhos e, como disse Zuckerberg, ajudar nosso governo a refletir sobre a vontade do povo. Mas, principalmente, que sejamos um povo cujas vontades sejam idôneas, e que não apenas façamos piadinha de tudo, fingindo que vivemos numa democracia só porque “podemos falar o que queremos do jeito que queremos”. Será que podemos mesmo ou amanhã sofreremos mais algum tipo de bloqueio?

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